quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Silêncio!

          Quem já trabalhou em redação sabe muito bem que esperar silêncio para escrever é o mesmo que pedir demissão. Sempre escrevi do jeito que dava, às pressas, com barulho, papo, fofoca, televisão, enfim, uma verdadeira orquestra. De uns tempos para cá, porém, com a vinda dos filhos e o meu feliz sumiço das redações, tenho notado que preciso cada vez mais do silêncio. Se o silêncio estiver no cenário de uma noite com grilos melhor ainda. Quer dizer, os grilos são para enfeitar o cenário desta cena; eles não são tão necessários assim.
            O barulho e a confusão de crianças que pedem, brigam, lutam por espaços e afeto é tão imenso, que eu às vezes preciso implorar para que elas se recolham ao sono. O silêncio chega, então. É quando eu quase acredito que sou uma ótima mãe e posso ouvir o que tenho a dizer. No meio da algazarra, eu grito e não me escuto; parece que fiquei oca no momento em que a maternidade me requisita todos os ouvidos e sentidos. Ah, elas dormem e eu me escuto enfim...
           Há dias em que dentro da concha não consigo ouvir o barulho do mar. É quando estou cansada demais para ouvir o que tenho a dizer, e o melhor a fazer é aproveitar o silêncio de outra forma: escrevendo sem escrever, ou seja, deixar que o pensamento pense sem a obrigação de virar papel.Ando mesmo cansada, mas acho que é de emoção. Não sei bem... Acho que preciso de mais noites silenciosas para ouvir o que meu cansaço está querendo me dizer. Desconfio que seja uma transformação que vai suspender meus pés um tanto acima do chão. Depois eu conto mais.