quinta-feira, 30 de junho de 2011

Meus engasgos

O que mais me engasga é quando fico muito emocionada e preciso segurar o choro para não parecer  ridícula no meio da multidão. Não me importo em parecer - ou ser - ridícula, tola ou qualquer coisa semelhante entre meus próximos, mas me intimida chorar no meio de muitos. Acontece que tudo me emociona. Sou daquelas que se sensibiliza com a vida. Nada para mim é banal. Ah, mil pedras me jogarão, bem sei... Lembram do que eu avisei? No meu blog, além das maluquices da minha casa, eu falaria de coisas engasgadas, assim como minha filha mais velha resolveu usar os diários para o desabafo... Então. Hoje eu me emocionei demais ao ver minha filha mais nova vencer a timidez e fazer uma bela apresentação de ginástica para os pais no colégio. Ela não se escondeu lá atrás, como eu pensei que fosse fazer, nem se enroscou na professora, nem fugiu como das outras vezes. Encarou a linha de frente. Fez bonito, sorriu para a câmera, agradeceu os aplausos. Quanta coisa tola e sem importância para qualquer pessoa além da mãe dela - eu mesma! - mas quanta emoção - engasgo - para mim. Como bem escreveu Clarice Lispector não me lembro onde, umas das experiências mais sublimes na vida é acompanhar alguma coisa amadurecer. "A coisa" pode ser não só uma pessoa (no caso os filhos), mas tudo o mais: um sentimento, uma amizade, quem sabe um amor. O amadurecimento das coisas traz para o olhar de quem viu tudo acontecer uma dormência que tem a sensação de paz. Minha filha Anne não foge mais de apresentações porque está, não só crescendo em seu tamanhão, como também amadurecendo. Acompanho seus passos com um festejo íntimo. E choro baixinho para ninguém ouvir; seguro tudo para só desabar depois, quietamente. Como agora. Eu chorava o tempo todo e vocês nem perceberam.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Alguém viu minha lagarta de unhas pintadas?

Trabalho em casa. Isso quer dizer que meu escritório é frequentemente invadido pelas minhas filhas em busca de folhas brancas, grampeador, clips, marcadores, enfim, tudo o que elas inventam de precisar sempre quando estou tentando me concentrar. Há muito tempo deixei de reclamar da invasão. Não adianta. Quanto mais elas me observam ocupada, mais querem me ocupar com suas preocupações. Outro dia, por exemplo, eu estava no escritório quando a menor, Anne, irrompeu com toda a seriedade de seus 5 anos e me perguntou: mamãe, não consigo encontrar minha lagarta de unhas pintadas! Achei tão curiosa a ideia de ter uma lagarta de unhas pintadas em cativeiro que imeditamente larguei o que estava fazendo e fui procurar a tal lagarta. Um bicho que eu nem sonhava que existia em minha casa. A lagarta não foi encontrada, mas logo comecei a imaginar o começo de uma história.
Anne também foi quem, com a mesma seriedade com que falou da lagarta, pediu: queria que você escrevesse uma história sobre uma sapa chamada Alfreda. Claro! Que outro nome poderia ter uma dona sapa senão este, Alfreda?As "invasões" ao meu escritório me atrapalham por um lado; por outro, muitas vezes me enchem de novas ideias, coisas insondáveis - assim como a lagarta de unhas pintadas... Quando as meninas estão no colégio ou dormindo, como agora, começo a elaborar alguns dos projetos lançados no ar como brincadeira ao longo das manhãs: somos um trio que pensa criativamente e esta é a nossa maior força.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O diário das coisas engasgadas

Tenho uma filha de 7 anos que se chama Amelie e outra de 5 que se chama Anne. As duas são tagarelas. Começam a falar de manhã cedo e às vezes até dormindo continuam falando. Sou uma mãe-ouvido ambulante: elas não se contentam em falar; preciso prestar atenção no que dizem, claro. Para não me cansar de tanto falatório, resolvi tirar vantagem: o que parece bobagem de criança para alguns, para mim vira material de trabalho. Aprendi a diluir ideias e fazer histórias aquareladas. Nem todas posso contar por enquanto. Uma delas vou antecipar: é o diário das coisas engasgadas.Devo explicar como surgiu a ideia. Aí volto à primeira frase e à primeira filha - Amelie fala muito, mas tem, por outro lado, a mania de não falar sobre coisas que ela considera secretas. Quanto  se cala, meu ouvido descansa; ela vai alugar as páginas dos diários que se espalham pela casa. Em um deles, Amelie escreve sobre as coisas de que NÃO gosta: suas coisas engasgadas.É uma lista criativa e muito engraçada. Cenas dos próximos capítulos vão ocupar as linhas deste blog que inauguro hoje.Teapot, teapot, teapot... me pareceu algo como tic-tac, tic-tac,tic-tac... um tempo marcando o quanto estrou atrasada com mil projetos empilhados na mesa do meu escritório, enquanto a cabeça rola por aí, girando em muitos quadrantes. Esta sou eu: uma viajante imaginária. Não curto muito sair do meu espaço, mas meu eu é intergaláctico. Por que falei isso agora? Ah, é porque minhas filhas tiveram a quem puxar: também eu sou tagarela.
Estou cansada, são quase onze horas da noite, e elas continuam falando. Preciso de um chá que me tranquilize os ouvidos ou que me deixe bem acordada para continuar diluindo histórias antes de adormecer...  Depois, ao chá da manhã, vou dar as boas vindas às ideias que irão me rondar antes mesmo que eu beba o primeiro gole.