sábado, 9 de março de 2013

LOW SKY
(trecho)


       Não era frio de neve. Se a neve fosse frequente, os cenários se sentiriam habitados. A neve povoa: as crianças aparecem para fazer bolas, os próprios adultos brincam de fazer pegadas de urso no chão alto. Mas e o frio sem neve? É deserto sem praia, calor sem horizonte. Reparando bem, o céu de lá é mais baixo, parece que vai esmagar a gente - low sky, low sky... Talvez não seja nada disso, eu é que me apequenava - ou sumia? - em meus apocalipses diários.
      O acinzentado daquela estação e de todas as outras quase inteiramente iguais transformava manhãs em tardes e tardes em noite. Todos os dias eram iguais, onde me encontrar se eu tinha a impressão de que saía de um ponto e não parecia ter tirado os pés do chão na direção de outro ponto? Nada amanhece verdadeiramente em lugares assim. A luz não entra pela frestas, tão fina e transparente que se dissolve antes de ter força para entrar nos lares, que permaneceriam escuros não fossem as lâmpadas.



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